Entrevista com Natallya Levino

 

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Natallya é professora da Universidade Federal de Alagoas, tem doutorado e mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Pernambuco. Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Alagoas, graduação em Administração com Habilitação em Comércio Exterior pela Faculdade de Alagoas. É vice-líder do Grupo de Pesquisa Inovação, Tecnologia e Competitividade. É associada à Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional e ao Institute of Electrical and Electronics Engineers, do qual é Mentora do Ramo Estudantil IEEE-UFAL. Participou de vários projetos, pesquisas e congressos relacionados às Bacias Hidrográficas e teve como tema de TCC em seu mestrado, a "Estruturação de Problemas de Decisões Estratégicas para Comitês de Bacias Hidrográficas de Pernambuco”.

Nicolle Luisse: Boa tarde, meu nome é Nicolle e eu gostaria de saber o que são bacias hidrográficas.

Natallya Levino: Então, Nicolle, a bacia hidrográfica é a área ou região de drenagem de um rio principal e seus afluentes. Toda área que você tem que escorre o rio ou os afluentes daquele rio, pode ser considerada uma bacia hidrográfica. Às vezes, pode haver uma bacia hidrográfica que pode vir de mais de um estado e tem as específicas de um estado só. Por exemplo, a Bacia do São Francisco, ela sai de Minas Gerais e vai percorrendo, passando por vários estados, passa por Minas Gerais, Bahia, Alagoas, vai para Pernambuco, e então ela envolve uma série de outros estados, além do próprio, passando pelo rio São Francisco e também tem os afluentes do rio, que estão dentro da própria bacia e a gente também tem bacias hidrográficas que são somente daquela região, compondo os rios e afluentes daquela localidade.

Nicolle Luisse: Muito obrigada. Minha segunda pergunta é sobre sua função, sua importância.

Natallya Levino: Como eu trabalho muito na área econômica também, pela minha formação, a bacia hidrográfica é primordial para o desenvolvimento das regiões. Foi muito falado sobre a transposição do Rio São Francisco nos últimos anos, inclusive, o presidente fez uma divulgação que tinha finalizado o último trecho da transposição do São Francisco, então a gente já vê a importância que a bacia hidrográfica tem quando a gente tem como motim de política envolver essa questão. Então, quando você tem o presidente falando sobre a importância da bacia hidrográfica, a transposição em si, você vê como ela pode ser considerada como fator econômico. A bacia hidrográfica pode movimentar toda uma região porque água é fonte de vida, ela pode ser usada como meio de transporte, para lazer, fonte econômica, turismo, utilizada por indústrias.

Heloísa Falco: Oi, eu sou a Heloísa e eu queria saber o que é mais afetado com o desgaste de uma bacia.

Natallya Levino: Eu falei muito da parte econômica, mas uma das coisas que a gente esquece de falar e que tinha que ter essa preocupação, é a questão ambiental. Quando eu afeto ambientalmente aquela bacia, eu deixo de beneficiar uma série de pessoas que estão ali, que vivenciam e utilizam aquela bacia para essa infinidade de usos que a gente relatou. Quando a gente tem uma indústria, ou outra atividade que polui aquela bacia hidrográfica, os danos ambientais provocados por eles são maiores muitas vezes que os danos econômicos, porque a indústria vai estar lá, gerando emprego e renda, mas a população afetada que utiliza aquela água pode ser maior que os ganhos econômicos daquela indústria. Daí você até falar “ah, mas não gera renda?”. Gera, mas aí, veja só, se aquelas pessoas utilizam aquela bacia como fonte de renda também, como pescador, num rio poluído ele não vai conseguir pescar, então já está afetando a renda daquela população. Tem algumas regiões que a água de consumo tanto humano como animal, é da própria bacia. Eu falo que os danos ambientais são os primeiros que são provocados, mas se os danos ambientais persistirem vai levar aos danos econômicos, porque uma coisa leva a outra.

Giovanna Prata: Oi, Natallya. Meu nome é Giovanna e a pergunta que eu queria fazer é: com relação à preservação das águas das bacias, existe realmente uma fiscalização árdua sobre elas?

Natallya Levino: Olha, Giovanna, eu vou falar do meu conhecimento de causa, que é do meu Estado. Isso compete às secretarias e os órgãos ambientais a fazer esse acompanhamento e essa fiscalização. Aqui seria o IBAMA, o Instituto do Meio Ambiente, seria a Secretaria do Meio-Ambiente e Recursos Hídricos que deveriam fazer. Mas acontece que as regiões são imensas, o volume de água que passa por essa bacia é imenso e, às vezes, a gente não tem pessoas contratadas por esses órgãos suficientes para fiscalizar todas essas áreas. Para você ter um exemplo, hoje a gente tem lá na Secretaria de Estado, do meu estado, do Meio-Ambiente, três pessoas concursadas para cuidar diretamente da fiscalização de um Estado. Para tentar minimizar esses efeitos, ela atua através de denúncias.

Heloísa Falco: A minha segunda pergunta é: qual a maior bacia hidrográfica do Brasil?

Natallya Levino: A maior bacia hidrográfica do Brasil é a Bacia Amazônica. Ela perpassa uma região maior, ela está dentro da floresta Amazônica, envolve uma série de outros rios e a relevância dela é justamente pela localização, é uma das bacias mais bem preservadas brasileiras. Muito utilizada para transporte, para pesca, para turismo, hidrelétricas. Por isso, ela tem sua relevância.

Giovanna Prata: Natallya, a minha segunda pergunta é: o que pode acontecer com as populações que dependem dessas águas, caso essas águas atinjam um nível extremo de poluição? Elas vão ter que se mudar? Como acontece isso?

Natallya Levino: Quando a gente tem água poluída, a primeira coisa que afeta é a alimentação, porque a gente vive disso. Aqui no meu Estado, a gente utiliza o sururu, que é coletado nas lagoas justamente como fator de renda daquela população, que é a população mais carente que sobrevive nas lagoas daqui, em Alagoas. Daí, se eu tenho essa bacia já comprometida, então, eu afeto essa população mais carente. Quem puder sair, vai sair da sua região, mas uma série de pessoas vai morrer de fome. A água é utilizada às vezes para agricultura de subsistência, que a pessoa planta para comer. O primeiro passo é morrer de fome, água poluída gera doença, também.

Mayara Borges: A próxima pergunta é minha. Meu nome é Mayara e eu gostaria de saber se a energia elétrica gerada pela Bacia Amazônica ajuda na economia do Estado.

Natallya Levino: Sim, muito! As usinas hidrelétricas pagam impostos para o Estado para sua produção, então, se eu pago imposto, eu estou beneficiando o estado, que pode gerar dentro daquele imposto benefícios para a população. Outra coisa é que a gente precisa de energia para produção, para produzir qualquer tipo de alimento, de insumo nas indústrias, eu preciso de energia, então, se eu preciso de energia para fazer esses fatores econômicos e para geração de impostos do próprio Estado, a gente necessita da bacia hidrográfica fazendo essa produção. Nossos rios têm condições favoráveis para a instalação de usinas.

Mayara Borges: Obrigada. Minha segunda pergunta é: na Europa, há o Projeto “We Senselt”, onde os cidadãos captam dados, avaliam as informações e fazem parte dos processos de tomada de decisões relacionada à água. A Doutora acha que podemos trazer esse projeto para o Brasil? Isso nos ajudaria? Por quê?

Natallya Levino: Acho que sim, peguei esse gancho para falar sobre os comitês de bacias. Os comitês de bacias são órgãos colegiados que contam justamente com a participação do poder público, dos usuários de água que podem, as usinas e também a sociedade civil. O comitê de bacias vai deliberar sobre o que vai acontecer com o dinheiro da cobrança do uso daquela bacia, se vai fazer proteção ambiental, se vai aumentar a fiscalização, se vai fazer campanhas de reflorestamento, etc. O comitê de bacias vai decidir o que ele vai fazer com os recursos provenientes da cobrança da utilização da bacia e também tem a etapa de verificar o que a bacia está precisando. Então, quanto mais projetos tivermos voltados para a recuperação e preservação das bacias, melhor. Hoje, a gente precisa viabilizar a atuação dos comitês, porque apesar dessa cobrança da utilização estar prevista numa lei desde 1997, não existe cobrança em todas as bacias do Brasil. Então, o comitê tem esse papel de auxiliar e acompanhar, discutir. Se tiver uma obra ou indústria poluindo, ele pode entrar com a ação pública contra a indústria, ele tem todo esse papel.

Michelle Cristina: Oi, eu vou fazer as próximas perguntas. Meu nome é Michelle, tenho 16 anos e eu gostaria de saber quais são principais problemas que afetam a preservação das bacias hidrográficas.

Natallya Levino: Olha, isso depende muito de região para região. Se você for olhar o Sudeste, um dos principais fatores que afeta as bacias hidrográficas é a poluição. Se você olhar para algumas bacias localizadas aqui na região do Nordeste, tem a escassez hídrica, que é a falta de chuva, que também é um dos grandes problemas existentes nessa localidade. Em algumas bacias, a gente tem a questão do assoreamento, que começa a degradar a região dos lados dos rios e vai caindo a areia sobre o rio, diminuindo a viabilidade hídrica. Cada bacia tem seu problema diferente, mas a poluição é um problema que afeta todas, em algumas regiões mais que outras, também tem a questão da degradação ambiental, estamos vendo agora que no Pantanal teve muita queimada, então, tudo isso afeta a bacia hidrográfica porque você vai estar transportando uma série de resíduos proveniente das queimadas para aquela bacia. Tivemos também aquele problema de Mariana, em Minas Gerais, até hoje a gente não vai recuperar aquela bacia e muita gente não sabe quanto tempo vai levar, porque teve todo esse processo que aconteceu da quebra da barragem e afetou toda aquela região, que vai demorar anos e anos para recuperar.

Michelle Cristina: Ah, sim, obrigada! Eu gostaria de saber, também, como a industrialização influencia a preservação das bacias hidrográfica.

Natallya Levino: Então, a gente nunca pode generalizar, dizer que todas as indústrias poluem, né. Hoje em dia a gente tem, graças a Deus, né, inclusive, cada vez consumidores mais conscientes no seu consumo, procurando empresas que estão responsáveis ambientalmente, que tenham preocupação ambiental. Não podemos dizer que não existe, claro que existe, a gente tem uma série de empresas que ainda faz o que não deveria, e aí, por isso que os órgãos fiscalizadores têm que ficar dentro, justamente para tentar multar essas empresas, para ela fazer com que haja correção de dentro desse processo. Então, as empresas estão tentando trabalhar em cima disso... não todas, né, mas a gente já tem mais solução, muito grande nesse sentido.

Michelle Cristina: Muito obrigada!

Nicolle Luisse: Qual é a principal importância das bacias hidrográficas brasileiras para o mundo?

Natallya Levino: A água e a bacia hidrográfica, como ela participa não só do Brasil, mas a região da Platina, a Bacia Hidrográfica da Platina, outros países, também, então, é como eu falei, a água é considerada fonte de vida, de desenvolvimento econômico. O papel dela, principalmente nessa região da América do Sul, envolve o desenvolvimento econômico e social, também, então, eu tenho a região Amazônica, que também consegue desenvolver essa região, tanto para o transporte - e aí, quando eu falo transporte, transporte só de pessoas e tráfego de pessoas? Não, tem tráfego também de produtos, que são feitos utilizando esse tipo de navegação. Então, é importante a bacia sendo utilizada, porque ela consegue melhorar a vida da população brasileira, mas, também, como dos países vizinhos.

Nicolle Luisse: Bom, a última pergunta é: quais soluções podemos adotar para sua preservação?

Natallya Levino: Olha, se a gente for olhar, a gente tem dois papéis, a gente tem a visão macro, que a gente pode jogar essa responsabilidade para os organismos públicos, daí tem como preservação a fiscalização, a questão do acompanhamento, a questão do próprio reflorestamento que Estados e municípios devem estar realizando para preservar essa bacia, mas eu acho que a gente pode fazer a preservação não jogando lixo na rua, porque aquele lixo, quando a gente joga, chove e acaba resultando em uma bacia hidrográfica. Questão de saneamento básico, que em algumas localidades não existe, então, todo lixo produzido por aquela população acaba nos rios, então, ter saneamento básico. Daí, a gente já vai para a visão macro, indústria poluindo também que afeta essa questão da preservação, os órgãos que não têm força de atuação em decorrência do tamanho do Brasil, não há fiscalização atuante em cima dessas empresas que estão poluindo. Mas eu acho que o papel é dos dois, então é governo e sociedade que tem o papel de preservar. Por isso que eu acho tão legal esse projeto de vocês, que é levar principalmente aos jovens a preocupação com o meio ambiente, então, vocês podem estar trabalhando e verificando hoje como a bacia hidrográfica pode ajudar e mudar a vida de uma infinidade de pessoas.

Nicolle Luisse: Muito obrigada.

Natallya Levino: Eu queria agradecer a vocês pelo convite, fico a disposição para mais dúvidas que vocês tiverem sobre o assunto, fiquei muito feliz pelo contato e até conversando com os amigos meus, principalmente por serem mulheres, por serem jovens. Eu não estou aceitando muito compromisso, principalmente quando pode pegar na parte da noite, por causa da minha pequena, nesses últimos dias. Já me chamaram para fazer, mas como era a noite, não fiz, mas achei o projeto de vocês muito legal, envolvendo meninas, estudantes, jovens e eu não quis deixar passar, porque eu também sou entusiasta de projetos que envolvam mulheres que fomentem esse tipo de discussão também, então agradeço, realmente, o convite de vocês.

Vitória Mantovani: Natallya, muito obrigada pela sua disponibilidade. Muito obrigada mesmo, acredito que tenha sido muito útil para as meninas, obrigada pelo seu tempo, suas pesquisas e suas respostas.

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Last modified on Monday, 28 December 2020 09:39

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